Amazônia! (Alto rio Negro)

Por que Amazônia? Por que Saúde Indígena? O interesse pelo novo velho.



O que mais me move é acreditar que as culturas indígenas tradicionais, suas maneiras de estar no mundo, seus estados de espírito, suas relações com o meio, podem e devem ser referência. Referência para escaparmos do fim da diversidade (bio, socio, etno), do esgotamento da abundância. Para escaparmos da globalização garimpante que se anuncia já há muito tempo.

Entre os povos tradicionais "os conhecimentos essenciais são bem comuns e não há o espírito deletério da competição que cresce no capitalismo e fomenta desigualdade, desilusão, infelicidade. (...) índios não vivem o desemprego mental, comum entre brancos..." (Osvaldo Augusto Sant'Anna*)

É imensa a contribuição que povos que não possuem o conceito de propriedade privada podem dar à renovação dos sentidos de nossas vidas. Povos que não utilizam a matemática exata como parâmetro do dia-a-dia, mas procuram valores de abordagem mais fluidos e naturais, em harmonia com seus meios. Na vida indígena os números existem mas não regem o mundo.
Há ainda a boa relação com a morte, a aceitação dela, um desfecho final digno e mais tranquilo, sem rejeição.*

Maloca, rara hoje em dia.

Certos povos coletores do alto Rio Negro ("Maku's"), originalmente com alto grau de mobilidade, foram agregados e sedentarizados principalmente por influência ativa de missionários católicos. Sem capacidade de amenizar os impactos da sedentarização (diminuição da caça, aglomeração populacional) e da aculturalização (os telhados de zinco, por exemplo, aumentam a amplitude térmica contribuindo para a incidência da tuberculose; a idéia de pecado foi inóculada ali e a necessidade de roupas, outro exemplo, sem a incorporação dos hábitos de higiene, criou importantes reservatórios de germes e ovos de parasitas). Os indices de desnutrição e de doenças infecto contagiosas nestes povos, hoje são gritantes. Alguns destes povos, inclusive, ainda estão em franco declíneo populacional.

Por simples saturação dos mercados de trabalho nos grandes centros populacionais, profissionais de sáude se envolvem nas ações de saúde indígena. Mas a questão é um tanto complexa e não parece haver bom preparo sócio-antropológico para estes lidarem com os desafios da Saúde Indígena.

Ainda hoje, a penetração em território indígena de catequistas (inclusive estrangeiros) é grande e exerce forte influência política local.

"Saibamos todos  que será tarefa extremamente difícil e que tange  o absurdo explicar aos nossos filhos que em nome de uma mensagem de amor e solidariedade, na figura de Cristo, extinguiram-se povos, arrasaram-se culturas e estabeleceram-se o etnocídio..."*

*"Ações em Saúde Indígena Amazônica" (2007). Soares, Oscar. Ed. FOIRN. (Bibliografia)