#1 - Para Cucuí.

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#1 - Para Cucuí.



Oito horas rio Negro acima. À vista um paredão de pedra, gigantesco, já na Venezuela. É a tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Colômbia.

Os militares nos receberam na margem. Soldados indígenas com fuzis em mão. Nome, identidade, profissão, “o que você veio fazer aqui?” e click, tua cara no sistema, entrada na fronteira. Militares de patentes mais altas, não indios, pescavam no rio. “Ô Catarina! Tem um parente teu aqui!”.

Ruas concretadas e 3 pequenos comércios. Militares ali há anos, atirando em guerrilheiros malucos, fizeram um modelo mais urbano, raro em área indígena.

O pôr do sol era vermelho vermelho refletindo o final da tarde no paredão de pedra. Fomos ao Polo Base*. Armamos a rede, recusamos o frango Sadia, o sopão Magi e o suco Tang (já pragas aqui). Riram das nossas cuias de cabaça, isso sim era estranho. Nada de carne de caça, açaí, ingá, biju.

Outro dia entristeci com as índias bochechudas tomadoras de prednisona (corticóide). A farmácia e a televisão sempre chegam primeiro. À tarde me convidaram pra jogar bola na nova cancha da comunidade. Índios peladeiros adolescentes que curtiam Nirvana. Curti uma saudade.
Há duas horas de voadeira de Cucuí tem uma cidadezinha venezuelana de 3 mil habitantes chamada San Carlos. Lá o Cháves colocou equipes de saúde, incluindo 14 médicos cubanos na Atenção Primária local. Disseram que atendem qualquer pessoa que se apresente (venezuelano ou não) com todos serviços e simpatia disponíveis. Descobri isso pelas ultrassonografias que as gestantes indígenas me traziam em espanhol.




Kike. Set/2012